Boran guarulhos

Reflexão sobre a tentação a elitização dos líderes tanto no Movimento social quanto da Pastoral da Juventude e a consequente desmobilização das bases. O vídeo do Boulos ajuda a fazer comparações e pensar soluções.    Guilherme é um dos líderes mais importantes do movimento social hoje e que mais aparece nas mobilizações de rua contra os retrocessos sociais provocados pelo impeachment da presidente Dilma. Vale a pena assistir o vídeo no final desta reflexão. Boulos fala da fragilidade das forças progressistas e de esquerda, provocada pelo abandono das bases. Algo semelhante acontece com setores da Pastoral da Juventude.

Como pesquisador e estudioso do fenômeno da juventude, com vários livros publicados sobre a metodologia de trabalho com os jovens, constato a tentação recorrente do vanguardismo ou elitização. Durante muito tempo estudei a história do trabalho pastoral com jovens.  Descobri que o mesmo fenômeno aparece em todas as décadas, começando com a Ação Católica Especializada, JUC, JOC, JEC, nos 60. Trata-se de uma chave de leitura para entender a crise na Pastoral da Juventude em algumas dioceses, hoje. Depois da Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude deste ano, escrevi uma reflexão sobre o perigo de abandonar o trabalho com os jovens reais que estão nas paróquias e CEBs e substitui-lo por um discurso abstrato que não mais consegue entrar em contato e motivar os jovens nas bases, com a consequente desmobilização. O discurso elitista é fortalecido pelo isolamento dos líderes dentro do mesmo “aparelho de conversa ”, para usar uma frase do Libanio ou dentro de uma bolha, conversando entre eles e reforçando suas ideias sobre a realidade sem ter contato com a realidade dos jovens reais nas comunidades. Acesse aqui esta reflexão:

Nas dioceses onde a Pastoral da Juventude está mais forte há uma opção de “voltar às bases”, de acompanhar sistematicamente os grupos de base, trabalhar a dimensão eclesial e a espiritualidade e a dimensão da celebração, de estar sempre renovando as lideranças através de revezamento de líderes e cursos intensivos, como o CDL (Curso de Dinâmica para Líderes), para conquistar e capacitar novos líderes. Diferente do movimento social, porém, a PJ ocupa dois espaços. Estes dois espaços são explicitados pelos principais documentos do Vaticano II:  1. A Igreja para dentro (ad intra – Lúmen Gentium) e 2. A Igreja para Fora (ad dextra – Gaudium et Spes).

Para as pastorais sociais há a tentação de ver o espaço eclesial (Igreja ad intra) como jaqueta que a gente joga fora quando começar a correr. Os movimentos de uma linha mais espiritualista, por outro lado, sofrem a tentação de ficar somente dentro do espaço eclesial onde, também, tem dificuldade de se integrar numa pastoral orgânica. Hoje a PJ está forte nas dioceses onde consegue trabalhar os dois espaços e vivenciar os dois espaços. A PJ nestas dioceses tem convicção que dos dois espaços são importantes e se complementam e fortalecem a luta pela justiça social e a promoção de uma formação que integra as cinco dimensões da Formação Integral na vida pessoal do jovem.

Há dois conceitos que ajudam a não confundir os papéis diferentes, das pastorais, dos movimentos populares, dos sindicatos e dos partidos populares: especificidade e autonomia. Cada um tem papel específico na transformação da sociedade que deve ser compreendido e respeitado. Há necessidade de trabalhar a especificidade e autonomia tanto no movimento social quanto nas pastorais, e que tentativas de movimento social ou partido político de aparelhar as pastorais acabam fracassando e desmontando a corrente teológica libertadora dentro da igreja. Como aponta Boulos, no vídeo, abandonar certos espaços não significa que permanecem vazios. Logo são ocupados por igrejas ou movimentos mais espiritualistas que tem outro projeto que não seja o protagonismo dos pobres na transformação social.  O mesmo fenômeno acontece, explica Boulos, quando os movimentos populares são aparelhados pelos partidos políticos. Líderes sem base têm dificuldade de mobilizar as pessoas na base, porque não conhecem as pessoas pelo nome e não estão presentes quando os lobos vêm para atacar. Há uma nova corrente dentro da PJ que abraça este caminho e cresce a cada dia.

Assista ao vídeo da entrevista com Boulos:

 

 

Jorge Boran CSSp