Prefácio do livro: 50 Olhares sobre os 50 anos da Pedagogia do Oprimido

Por Moacir Gadotti – Presidente de Honra do Instituto Paulo Freire

Em 2018, o livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, fez seu 50º aniversário, levando em conta que ele assina os manuscritos datando-os na “Primavera de 68”. Ernani Maria Fiori foi, talvez, o primeiro leitor dos manuscritos, depois da leitura de Elza Freire que acompanhou a sua escrita mais de perto. Fiori, no prefácio do livro, destaca neles que “não há palavra verdadeira que não seja práxis” e que “aprender a ler é aprender a dizer a sua palavra”, anunciando quase a síntese do livro.

Nesses 50 anos de existência muito foi dito e escrito sobre esse livro. Paulo plantou uma semente que deu muitos frutos, inspirando muita gente, como os 50 autores e autoras deste E-book, fruto da segunda edição do curso da EaD Freiriana, A escola dos meus sonhos.

Neste livro há uma variedade de abordagens da Pedagogia do Oprimido, como numa polifonia, um verdadeiro exercício de transversalidade e de cruzamento de fronteiras que só uma obra aberta, como a de Freire, poderia inspirar. Vi desdobrando-se os temas da autonomia, da cidadania e da utopia, tão caros a Freire, os círculos de cultura no mundo atual e as epistemologias freirianas.

Destaco ainda o tema da humanização, tão relevante frente à desumanização crescente na qual vivemos confrontados hoje. Pedagogia do Oprimido torna-se, assim, uma espécie de mapa de navegação em tempos nebulosos.

Encontramos neste livro também a forte marca pessoal do quanto esta obra tocou corações e mentes de seus leitores e leitoras, o que dá razão a Freire quando sustenta que não há palavra verdadeira que não se transforme em práxis. Surge o diálogo, a intersubjetividade, o esperançar, como exigências desses novos tempos se quisermos chegar mais longe nessa caminhada civilizatória.

Nos dias em que vivemos, precisamos muito exercitar a escuta, o diálogo entre diferentes, numa conectividade radical, para “tornar o mundo um lugar onde seja menos difícil amar”, como ele afirma no final da sua Pedagogia do Oprimido, como um apelo ao esperançar.

A esperança nos possibilita a superação, na prática, da visão mecanicista da História, na qual o futuro é pré-determinado e previsível. E isso não vale só para os docentes. Vale para todos os seres humanos. Como um pressuposto da existência humana, a esperança pode ser vivenciada em qualquer atividade: na prática do esporte, na prática jornalística, na política, em casa, entre os familiares, na prática clínica, psicológica, terapêutica, artística, na prática da justiça e da paz, no enfrentamento da discriminação, do preconceito, da intolerância e do ódio, em todas as dimensões da vida e em todas as ações humanas.

A Pedagogia do Oprimido é um marco na história do pensamento pedagógico universal. Como livro síntese da concepção libertadora da educação, ele desvelou as artimanhas da pedagogia do colonizador e colocou um poderoso instrumento de luta nas mãos dos oprimidos, dos que com eles são solidários e dos que com eles lutam.

Esses 50 olhares, ao retomar a leitura dessa obra, servem também como um estímulo a prosseguir diante de inevitáveis desafios e dificuldades.

Paulo Freire deixou, como legado, uma visão de mundo, uma filosofia, um método de investigação e de pesquisa ancorado numa antropologia e numa teoria do conhecimento, imprescindíveis não só para educadores, mas para todos aqueles e aquelas que acreditam na possibilidade de criação de um mundo mais justo e solidário.

Fico feliz ao prefaciar este E-book, constatando que, 50 anos depois, Pedagogia do Oprimido continua inspirando tantos e tantas na construção de um outro mundo possível.

 

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