No dia 19 de junho fui na Avenida Paulista, em São Paulo, para assistir os protestos – justamente o dia em que o Brasil atingiu meio milhão de mortes pelo Covid 19. Seguem algumas reflexões neste momento de virada, em que o povo enfrenta o perigo de combater dois vírus ao mesmo tempo, o vírus de covid 19 e o vírus de um líder negacionista que está sendo acusado de sabotagem de medidas necessárias para evitar as mortes: uso de máscaras, isolamento social e vacinas …
O jornalista, Rudá Ricci, afirma: “As manifestações gigantes de ontem (em número de pessoas e de cidades mobilizadas) alteraram a configuração do embate entre forças populares (nada de republicanismos por aqui) e a extrema-direita. Foram registrados 427 atos realizados no Brasil e em 17 países no exterior. Estima-se que ontem foram 750 mil pessoas às ruas contra Bolsonaro e sua agenda genocida. A grande imprensa não consegue – como ocorreu na Campanha das Diretas -esconder a pujança das mobilizações”.
Seguem fotos dos participantes, com seus cartazes, que comunicam melhor do que palavras uma convicção que os protestos na internet precisam ser complementados pelo poder da rua, para provocar mudança. Caminhando no meio da multidão percebi várias coisas. A grande maioria eram pessoas mais jovens, talvez porque muitas pessoas de uma certa idade precisavam ficar em casa, com razão, por medo de contaminação. Portanto, o número que concordam com os protestos é muito maior. Tirando foto de uma jovem que participava de um grupo político e segurava um cartaz, com a mensagem “Vida, pão, vacina e educação! Fora Bolsonaro. Genocida”, ela me perguntou: “ Você não me conhece; sou da PJ?”
Tive a impressão de virada, que muita gente está ascendendo de novo a chama de esperança, de um povo assumindo de novo o protagonismo político, como reza nossa constituição, e, ao mesmo tempo, insistido que a ciência não pode ser substituída pelo charlatanismo, seja religioso ou não. Senti um povo decidido, determinado, ordeiro, mas com uma raiva controlada contra a destruição do seu país e o futuro dos seus filhos. Não encontrei nenhuma pessoa sem máscara. Não precisava de nenhum policial para manter a ordem. Este novo despertar da esperança é importante no momento em que a Folha de São Paulo publica um artigo com título: “Sem perspectivas, metade dos jovens quer deixar Brasil” (FSP, 21/6/21).
Parece, também, uma virada frente ao discurso de “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, um discurso acompanhado por uma prática de ódio, de divisão, de vingança, de corrupção e de intolerância. Há uma volta à normalidade de antes, dos valores que não podemos abrir mão: a decência, a solidariedade, o altruísmo, o amor, a empatia, a justiça social, o espírito de comunidade e a fé – a verdadeira fé. Trata-se de uma virada que está sendo empurrada, também, pela CPI no Senado, que vai desmascarando um projeto “genocida” e que também, começa a seguir a pista do dinheiro que motiva o discurso ideológico.
Foi sábia a decisão de Lula de não comparecer, desta vez. Dizia ele: “Eu ainda não sei se vou na manifestação. Tenho uma preocupação. Não quero transformar um ato político em um ato eleitoral. Não quero os meios de comunicação explorando isso como o Lula se apropriando de uma manifestação convocada pela sociedade brasileira.” Porém, vai chegar um momento em que as lideranças progressistas dos partidos terão que somar forças com as lideranças dos movimentos sociais, nas mobilizações, para dar outros passos.
No final das fotos incluí a oração de Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar de Belo Horizonte, uma oração que está chamando atenção nos meios sociais.
Segue vídeo com visão panorâmica da mobilização na Paulista:
https://www.instagram.com/reel/CQUNVIKBYxi/?utm_medium=copy_link
Segue também uma oração comovente: 500 mil vidas – Até quando, Senhor?