«A luta contra o racismo não pressupõe uniformidade, mas multiplicidade na unidade», e esta convicção remonta ao Antigo Testamento, que no seu primeiro livro alude à palavra “adamah”, transferida depois para “Adão”, que em hebraico tem o significado de “humanidade”, pelo que «todos somos Adão», vincou cardeal Gianfranco Ravasi.

As palavras do biblista foram proferidas esta segunda-feira, na abertura do encontro “Racismo, mulheres e a Igreja católica”, organizado pelo Conselho Pontifício da Cultura, do Vaticano, presidido pelo prelado italiano.

«O racismo é a negação da relação, é uma forma de negacionismo social e espiritual», pelo que afirmar a necessidade de ir ao encontro do outro e, ao mesmo tempo, reconhecer a sua diferença, são duas atitudes fundamentais para combater o preconceito racial.

Para Consuelo Corradi, presidente da Consulta Feminina do Conselho Pontifício da Cultura, o racismo é hoje «uma emergência social muito grave que continua a não ser resolvida», e continua presente «todos os dias» em muitos países.

A Ir. Rita Mboshu Kongo, teóloga congolesa e docente universitária, destacou a importância da educação como instrumento para combater o racismo, porque a escola e a família são os primeiros lugares para compreender como a discriminação, sobretudo em relação às mulheres, está errada.

Depois de declarar que «o racismo deve ser combatido com a formação da consciência», lançou um apelo: «Peço à Igreja para se comprometer mais na formação das religiosas, de maneira a que tenham uma bagagem adequada ao apostolado que lhes é pedido».

Miroslava Rosas Vargas, embaixadora do Panamá junto da Santa Sé, acentuou que «o preconceito racial é uma blasfémia contra o Criador, é um pecado que vai contra a mensagem de Cristo e que tem de ser combatido na raiz».

A moderadora do debate, Silvia Cataldi, socióloga e docente universitária, recordou que continuam os genocídios e atos de violência cometidos por causa de visões do mundo baseadas no racismo, que muitas vezes está ligado ao sexismo.

Contrapondo-se à perspetiva de S. Paulo, nas cartas aos Gálatas e Colossenses, em que afirma que em Cristo não há escravo nem livre, bárbaro ou estrangeiro, «o racismo é um vírus que muda facilmente, e em vez de desaparecer, esconde-se, está sempre emboscado», alertou.

A sessão, que decorreu pela internet, contou também com as intervenções de uma responsável pelo Comité Contra o Racismo, da Conferência Episcopal dos Bispos Católicos dos EUA, e de Maria Clara Bingemer, professora da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro.

 

Rui Jorge Martins
Fonte: Vatican News
Imagem: Atlas Studio/Bigstock.com
Publicado em 24.11.2020