Uma questão central no trabalho pastoral com jovens é a formação de líderes. São os líderes que mobilizam a massa. A massa sem líderes é um corpo sem cabeça. Cada vez mais cresce a consciência, seja na Pastoral da Juventude, nos Movimentos Apostólicos, Novas Comunidades ou congregações religiosas que trabalham com jovens, que é necessário investir no despertar de novos líderes e na capacitação dos já existentes.
Com a publicação do livro de James Macgregor Burns, sobre Liderança, em 1979, se inicia uma grande mudança na compreensão de liderança na sociedade contemporânea. Surge um novo modelo, diferente do tradicional. O referido livro está baseado num estudo transcultural de famosos líderes históricos de diferentes países do mundo. Burns escreveu como teórico político e historiador. A maioria dos autores subsequentes se baseia nas teorias de Burns¹.
Liderança é, talvez, um dos temas mais estudados no mundo de hoje, nos âmbitos da sociologia, da política, da educação e da administração de empresas, e podemos também aproveitar os resultados destes estudos dentro da Igreja. Não há necessidade de partir somente de nossas experiências limitadas. Um líder não nasce, se faz. Hoje em dia há diferentes cursos de capacitação de líderes que podemos aproveitar. Não há necessidade de “inventar a roda de novo”.
Seguem algumas ideias que podem iluminar nosso trabalho com jovens:
Poder e liderança. Quando estudamos liderança, não podemos ignorar a questão de poder ou considerar o poder somente como algo negativo. Liderança é uma forma de poder. Poder é uma energia básica necessária para traduzir
as intenções em ações. Sem esta energia os líderes não podem liderar. Nem todos os portadores de poder, no entanto, são líderes. Tampouco o poder que é usado para dominar é visto como liderança. O poder para liderar se baseia em uma relação entre o líder e seus seguidores. O gênio da liderança se revela na capacidade de motivar os seguidores a atuarem sobre metas que representam os valores, tanto do líder como dos seguidores. O poder do líder vem de sua capacidade de escutar e responder às necessidades e aspirações dos seus seguidores, procurando motivar os seguidores a responder às suas necessidades e aspirações. Ao mesmo tempo pode decidir a ignorar algumas aspirações e despertar outras. Os líderes têm uma visão e metas e trabalham a partir de uma estratégia para concretizá-las.
O Líder fixa sua atenção e a atenção dos outros em uma visão do futuro (utopia). Há diferença entre administradores e líderes. Administradores são eficientes e garantem um trabalho de boa qualidade e dentro do prazo. Este trabalho é importante. Sem o mínimo de eficiência as coisas não funcionam e ficamos somente com os belos discursos. O problema é que muitas organizações têm somente administradores. Não têm líderes. O resultado é a submissão ou obediência contra a vontade, e uma pastoral de manutenção que vai perdendo terreno frente a uma sociedade cada vez mais secularizada e pluralista. Talvez o maior exemplo deste tipo de liderança hoje é o Papa Francisco. Ele tem uma visão de como deve ser a Igreja no futuro e consegue comunicar e empolgar milhões de seguidores com esta visão. Ele comunica esta visão com uma linguagem simples e direita e com gestos que mostram coerência de vida. Ele consegue despertar na Igreja e no mundo nova esperança e nova energia. Esta liderança é reconhecida dentro e fora da Igreja.
Em 2015 o Pontífice visitou Equador, Bolívia, Paraguai, Cuba, falou para o Senado e Congresso nos Estados Unidos, para as Nações Unidas em Nova York e para um encontro internacional da família em Filadélfia. Na Bolívia falou empolgou o Encontro Internacional de Movimentos Populares. Em todos os países visitados sempre achou um jeito de falar para os jovens, que por sua vez se empolgam com os desafios que lançados para eles. No Paraguai e em Cuba, depois de escutar os depoimentos de alguns jovens, deixou de lado o textos preparados e falou espontaneamente, dialogando com os jovens a partir de temas apontados nos depoimentos. Falando para uma multidão de jovens em Manila, no mesmo ano, escutou o depoimento de uma jovem que vivia na rua e encontrou na prostituição a única maneira de sobreviver. Quando a jovem perguntou chorando porque Deus deixara acontecer esta situação, o Papa deu-lhe um abraço e deixou o silêncio responder a pergunta. Trata-se de uma energia que vai e vem entre o líder e os seguidores e assim consegue motivá-los a abraçar valores e ideais mais nobres. Francisco deixa claro que conta com os jovens para fazer a revolução de amor, que coloca os pobres e todos os grupos marginalizados no centro. Não fala uma mensagem água-com-açúcar, mas sim lança o/ desfio de sair do comodismo e fazer grandes sacrifícios para construir uma Igreja e um mundo novo.
O líder constrói a visão junto com os seguidores, sua visão do futuro, apontando às pessoas a sua direção. O líder desafia os outros. Há um vai e vem impressionante de energia entre o líder e seus seguidores. Esta intensidade é somente possível quando líder sabe o que quer. Os líderes avançam mais, ajudam as pessoas a terem prazer e satisfação no seu trabalho, estão preocupados com uma visão, trabalham com os recursos emocionais e espirituais da organização, fazem esforços para responder às aspirações humanas profundas, para serem importantes, para serem uteis, para fazerem parte de algo bem sucedido. Com o resultado as pessoas são “empoderadas”. Liderança é especialmente importante hoje, devido à necessidade de trabalhar constantemente com as mudanças. O administrador tem dificuldade de sair da rotina e lidar com novos desafios que emergem numa sociedade em constante evolução. Por isso uma pastoral de manutenção hoje – formada por administradores – é incapaz de fazer frente aos grandes desafios de uma sociedade que muda tão rapidamente.
PERGUNTA:
• Qual a diferença entre o Poder e Liderança?
1 MacGregor Burns, J. (1979). Leadership, New York: Haper Torchbooks
Jorge Boran CSSp