Como líderes da Congregação do Espírito Santo e membros do Conselho da UCAL (União das Circunscrições do Brasil, Paraguai e Bolívia), motivados pela fé e as exigências do Evangelho, queremos nos manifestar sobre a grave crise pela qual o Brasil passa no momento.

Constatamos que, após a ruptura democrática com o processo de deposição de uma Presidenta legitimamente eleita, em 2016, há uma crise ética e institucional que atinge todos os setores da sociedade.  Há uma polarização que tem levado a posições extremas de ódio e intolerância que criam dificuldades para conduzir um debate racional. O fakenews se espalha na internet. A verdade, a tolerância, o respeito, o diálogo e os valores civilizatórios são as primeiras vítimas. O tecido social começa a desintegrar. Ao mesmo tempo a situação social deteriora.  Houve aumento de desemprego e a precarização das leis trabalhistas. Os serviços sociais de saúde, educação e segurança pioram com a fixação dos gastos por 20 anos.  Há a criminalização dos movimentos sociais que defendem os mais pobres. Mais de 100 lideranças populares foram assinadas nos últimos dois anos. As estatísticas sobre o aumento da violência são alarmantes, em parte como resultado de uma estratégia que apresenta a repressão como solução e ignora as causas estruturais mais profundas, como a falta de investimento na área social, de modo especial na educação. Não se combate a violência investindo na construção de mais presídios, mas sim de mais escolas. É de ressaltar ainda que o maior jornal dos Estados Unidos, o New York Times alertou que as reformas fiscais levariam o Brasil a se tornar um país de pobres e miseráveis no futuro (22/03/2017).

Ao terminar a sua assembleia geral deste ano, a CNBB denunciou que “a perda de direitos e de conquistas sociais, resultado de uma economia que submete a política aos interesses do mercado, tem aumentado o número dos pobres e dos que vivem em situação de vulnerabilidade. Inúmeras situações exigem soluções urgentes…”

Os três poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, passam também por uma crise profunda, sendo que os dois primeiros estão envolvidos em grandes escândalos de corrupção e o último, que deve ser o guardião da constituição e o moderador entre os poderes, sofre forte politização. Com isso, a Lava Jato que, num primeiro momento, foi a esperança de combate à corrupção revelou-se tendenciosamente partidária.

Antes de morrer, o juiz do Supremo, Teori Zsvascki, fez uma conferência em que deixa um recado ao Juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato, dizendo que um judiciário deve ser imparcial, discreto, não se deixar ser contaminar por holofotes, se manifestar depois de ouvir as duas partes, mostrar serenidade e não deve ser contaminado pela paixão que é cega.

O mais popular ex-presidente da história do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que terminou dois mandatos como presidente com altos índices de aprovação, está preso sem provas e por um processo judiciário muito questionado nacional e internacionalmente.

A maioria do povo acredita que ele esteja sendo perseguido politicamente e que o objetivo é de impedir que seja candidato nas eleições presidenciais deste ano porque as pesquisas indicam que ganharia.

Como congregação religiosa não pretendemos fazer opção por um candidato, entretanto, devemos defender a democracia e o direito do povo escolher o candidato que quiser. A repercussão internacional aumenta cada dia relativamente à democracia brasileira.

Como Igreja não fazemos opção partidária, que cabe aos leigos e leigas em nossas comunidades. Contudo, trabalhamos para ajudar o povo a adquirir consciência crítica e não se deixar ser manipulado por grupos que visam somente seus interesses e não o bem comum. A dificuldade é que os grandes meios de comunicação que estão nas mãos de cinco famílias e frequentemente manipulam as informações necessárias para uma escolha objetiva.

Estamos conscientes de que, o futuro do país dependerá do fortalecimento da sociedade civil e o fortalecimento da consciência do povo para enxergar que, atrás dos discursos dos políticos e outras lideranças há, a grosso modo, dois projetos políticos e sociais que determinará o futuro do Brasil. O futuro dependerá do modelo que apoiamos conscientemente ou inconscientemente.

O primeiro projeto é um projeto de exclusão social:

De aprofundamento da distância entre ricos e pobres, de fazer com que os pobres paguem para os ajustes das contas públicas. No Brasil, por exemplo, seis pessoas têm renda superior a 100 milhões de pessoas ou a metade da população. Este projeto normalmente está escondido atrás de um discurso que diz o contrário. O verdadeiro projeto aparece, não no discurso, mas na prática. É só consultar na internet, por exemplo, para saber como os políticos e os partidos votaram, a favor ou contra projetos como a fixação dos gastos sociais por 20 anos, a precarização das relações de trabalho e a eliminação de direitos sociais conquistados. Frequentemente, se ficarmos no nível dos discursos não há diferença entre os candidatos pedindo nossos votos.

O segundo projeto pretende construir um Brasil do futuro, de inclusão social:

Vê necessidade de políticas de inclusão das massas excluídas. Propõe incluir, a taxação das grandes fortunas, dos bancos, o controle do financiamento dos candidatos a eleição etc. Esta opção inclui o aperfeiçoamento da democracia. A afirmação em nossa constituição que todo poder emana do povo e em seu nome é exercido tem que descer da teoria à prática.

O Brasil vive uma contradição. Trata-se de um país cristão que prega que o mandamento central é o amor, e, ao mesmo tempo, vive uma realidade que contradiz frontalmente esta afirmação. Juntando as duas realidades solta a energia de transformação de uma bomba atômica.

A opção pelo segundo projeto político-social é o único que garante um futuro melhor para o país. Neste sentido, a assembleia da CNBB deste ano incentiva “as comunidades eclesiais a assumirem, à luz do Evangelho, a dimensão política da fé, a serviço do Reino de Deus.” Com isso, a Igreja mesmo sendo apartidária, toma partido, sim, defendendo os pobres e excluídos, como fez Jesus Cristo. No Evangelho de São Mateus (Mt 25, 31-46), Jesus deixa claro que o pobre é o sacramento da sua presença entre nós e que nossa salvação eterna dependerá do lado que escolhemos.

O teólogo da África do Sul, Alberto Nolan, fala que o Antigo Testamento pode ser resumido em uma palavra, “JUSTIÇA” e o Novo Testamento na palavra “AMOR” e que as duas palavras são como os dois lados de uma mesma moeda. Um não pode existir sem o outro.

Em conclusão, queremos recordar também que um dos nossos fundadores, Padre Francisco Libermann, escreveu aos seus missionários para que sejam “os advogados e os defensores dos pobres e pequenos, contra todos àqueles que os oprimem”. Portanto, enquanto espiritanos reafirmamos a nossa opção por uma política democrática que visa o bem comum e defende os mais desfavorecidos.

Guarujá, SP, nos dias 23 a 27 de abril de 2018, reunidos para nosso encontro anual de avaliação e planejamento da missão da Congregação do Espirito Santo no Brasil, Paraguai e Bolívia.

Conselho de Superiores da UCAL

Pe. Jorge Boran (Superior Brasil Sudoeste e coordenador Conselho UCAL)
Pe. Leonardo da Silva (Provincial, Província do Brasil)
Pe. Flavio Gonzaga (Superior Amazonas – Brasil)
Pe. Inácio Songueve Pachecio (Superior Acre-Alto Juruá)
Pe. Mauricio Shortall (Conselheiro Geral em Roma)
Pe. Vitor de Oliveira (Superior Paraguai)
Pe. Marcio Asseiro (Superior Bolívia)

 

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